Friedrich
Engels (1820 – 1895) foi teórico alemão fundador do socialismo científico
(comunismo) teve importante contribuição para essa corrente político-filosófico
e ao método materialismo dialética (materialismo histórico dialético),
juntamente com Karl Marx escreveram diversas obras entre elas a mais conhecida
o Manifesto do Partido Comunista (1848), foi dele também a tarefa de
sistematizar os estudos realizados por Marx para publicação do segundo e
terceiros volumes de “O Capital”.
Em seu texto “Transformação
do macaco em homem” Engels apresenta sua percepção da influência do trabalho na
evolução de uma espécie de primata antropóide, fundamentado na teoria de Darwin
- seleção natural – que apenas uma determinada espécie – intermediário – de
primatas, os símios, seria os primeiros estádios do homem como conhecemos hoje.
O trabalho segundo
Engels (1980, p. 7) “É a condição fundamental de toda a vida humana, e em tão
elevado grau que certo sentido, se pode dizer: foi o trabalho que criou o
próprio homem.”. Nesse processo o fato da locomoção sobre a posição ereta
(bípede), liberando, por conseguinte a mão - que
mesmo antes disso já cumpria uma função particular aos antropoides - foi
o primeiro passo para o desenvolvimento do homem. Durante o longo período de tempo
que a mão evoluía, para Engels ela é vista como fruto do trabalho, até sua
plena evolução, sendo capaz de produzir instrumentos:
Deste modo, a mão não é apenas o órgão de trabalho, é também a produto
do trabalho. Só pelo trabalho, pela sua adaptação a operações sempre novas,
pela transmissão hereditária do desenvolvimento particular, assim adquirido,
dos músculos, dos tendões e, em intervalos mais longos, dos próprios ossos,
pela aplicação constante desse aperfeiçoamento hereditário a novas e cada vez
mais com poucas operações, foi possível a mão Humana alcançar esse elevado grau
de perfeição que lhe permitiu fazer surgir o milagre dos quadros de Rafael, das
estátuas de Thorwaldsen, da música de Paganini. (ENGELS, 1980, p. 9)
O fato do trabalho
ter uma característica social possibilitando a formação ainda maiores de
grupamentos sociais que o trabalho mútuo resulta, o suprimento das necessidades
do grupo gerou novas, a de comunicação, passando assim o desenvolvimento,
lentamente, de um órgão que possibilitasse a emissão de sons, a laringe: “(...)
e os órgãos da boca foram, pouco a pouco, aprendendo a pronunciar sons
articulados” Engels (1980, p. 11). A linguagem articulada, assim como a mão, é
fruto do trabalho realizado pelo homem, ao organizarem um conjunto de símbolos
e representações necessários na vida em grupo. Os estímulos: o trabalho, a
linguagem pouco a pouco foi desenvolvendo o cérebro e, por conseguinte, os
órgãos dos sentidos como a visão e a audição. O cérebro passa a acelerar o
desenvolvimento através da capacidade de abstração e raciocínio recebidos pelos
sentidos que influenciaram o trabalho e a linguagem em seu continuo aperfeiçoamento.
Nesse ponto, Engels considera que o homem se diferencia totalmente do macaco e
surge um novo elemento nesse progresso evolutivo e acabado de homem, a
sociedade.
Outro ponto
importante apresentado por Engels é o fato de a mudança alimentar dessa espécie
de macaco até se tornar em homem. Não só o fato da introdução de novos
elementos à alimentação – alterando a estrutura física -, inclui também, o fato
de passarem a permanecer em grupos fixos, gerando necessidade como a caça e a
pesca além da criação de animais para suprir essa nova dieta alimentar, a
carnívora. Para Engels o trabalho na história do homem começa desse ponto:
O trabalho começa com a fabricação de ferramentas. (...) São
instrumentos de caça e de pesca, servindo, os primeiros, também de armas. Mas a
caça e a pesca pressupõem a passagem da alimentação exclusivamente vegetariana
ao consumo simultâneo da carne: um novo passo no sentido da humanização. (ENGELS,
p. 15)
As novas necessidades
surgidas pela ocupação de áreas cada vez mais vastas pela superfície
adaptando-se ao relevo, clima e intempéries é uma característica próprio do
homem e a cada necessidade se desenvolvia novos tipos de trabalho e a especialização
da mão, dos sentidos e do cérebro como já foi dito. Se no primeiro
momento o trabalho desenvolvia a habitação, o vestuário etc. “O próprio
trabalho se ia tornando, de geração para geração, mais perfeito e mais variado”
Engels (1980, p. 17). Mas à medida que o processo dialético entre
homem-trabalho-natureza se aprofundava surgia então novas atividades:
À caça e à criação de gado, junta-se a agricultura, e a esta a fiação, a tecelagem, os trabalhos com metais, a navegação, a olaria. Ao lado do comércio e da indústria surgiram, finalmente, a arte e a
ciência; as tribos transformaram-se em nações e em. Estados; a política e o
direito desenvolveram-se, e, a um mesmo tempo, o reflexo fantástico das coisas
humanas: a religião. (ENGELS, p. 17, grifo nosso)
Engels reafirma
que o trabalho produziu o homem à medida que o homem trabalhava, os outros
animais não saíram da dependência do que a natureza lhe oferece. Ao homem tomar
consciência das suas necessidades e através do desenvolvimento do cérebro foi
cada vez mais se afastando da dependência da natureza e fazendo com que ela lhe
desse mais do que ela poderia, através do trabalho ao modificá-la.
A importante
contribuição feita por Engels no texto está no fato dos apontamentos do que
possibilitou a passagem do macaco ao homem, onde a principal característica é o
processo dialético proposto por ele entre o homem que modifica a natureza
através do trabalho e que é também constructo desse trabalho realizado, nos
diferenciando dos outros animais no trato com a natureza, fazendo com que ela
passe a fornecer o que ele necessite através de sua modificação.
O texto de Engels nos
possibilita a uma visão acerca da evolução de uma espécie de macacos – símios -
que além de suas caracterizas físicas próximas ao homem também se caracteriza
pela forma de socialização entre seus membros, uma imagem primitiva do homem
atual, desenvolvido ao longo da história e do processo dialético entre o homem,
natureza e outras espécies sob a perspectiva da categoria trabalho e as formas de
interação no processo evolutivo.